A Prefeitura Municipal de Araçatuba
Ex-Prefeitos
Aureliano Valadão Furquim

Aureliano Valadão Furquim

De 1938 a 1941

Aureliano Valadão Furquim, conhecido como Dr. Valadão, foi prefeito por dois mandatos e vereador em Araçatuba. Foi o responsável pelo asfaltamento das primeiras ruas, algo pioneiro no Estado.

 

É considerado um dos maiores políticos da história do município.

 

O professor Euclides Garcia Paes de Almeida, autor do livro "De Minha Janela – Vida e História de Aureliano Valadão Furquim e suas realizações em Araçatuba", obra editada pelo jornalista Marcelo Teixeira que serviu de base para este texto, define o Dr. Valadão como um personagem multifacetado: intelectual, administrador público, memorialista, articulista e figura central no desenvolvimento urbano e cultural da cidade.

 

Valadão é lembrado como um administrador inovador, honesto e incansável, que transformou Araçatuba em um polo de modernização e progresso. Seu municipalismo, espírito empreendedor e visão democrática marcaram não apenas a política local, mas contribuíram para o debate nacional sobre a autonomia dos municípios.

 

 

FAMÍLIA

Aureliano Valadão Furquim nasceu no dia 5 de outubro de 1901 na Fazenda Piraju, no município de Cravinhos (SP), região de Ribeirão Preto. Era filho de Raul Furquim, político e empreendedor, e Domnina Valladão Furquim.

 

Dr. Valadão se casou em 1930, em Araçatuba, com Zoraide Dória Furquim. Tiveram seis filhos: Luiz Dória Furquim, Carmen Lia Furquim Angrisani, Raul Furquim Neto, Thaís Dória Furquim, Eliana Furquim Martins Ferreira e Aureliano Valadão Furquim Filho.

 

 

DIREITO

Formado em Direito na Faculdade do Largo São Francisco, na Universidade de São Paulo (USP), chegou em Araçatuba em 1926, inicialmente para administrar propriedades da família e atuar como advogado. Rapidamente tornou-se figura de destaque local, ocupando cargos como promotor interino, tabelião e presidente do Araçatuba Clube.

 

 

PRIMEIRO MANDATO

Sua trajetória política ganhou força após a participação na Revolução Constitucionalista de 1932, onde conquistou prestígio que o ajudaria, mais tarde, na política.

 

Nomeado interventor municipal pelo governador Adhemar de Barros, sob o regime do presidente Getúlio Vargas, administrou Araçatuba entre 29 de setembro de 1938 a 24 de julho de 1941.

 

Enfrentou um cenário de conflitos fundiários e instabilidade política, mas conseguiu pacificar a cidade. Foi pioneiro em várias frentes de modernização.

 

 

"CIDADE DO ASFALTO"

Implantou o asfaltamento urbano em Araçatuba, que ficou conhecida como a "Cidade do Asfalto". Na época, as ruas eram de paralelepípedo.

 

Inspirado no bom resultado obtido pela Prefeitura de São Paulo na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, Dr. Valadão decidiu investir na nova tecnologia, asfaltando um trecho na Praça Rui Barbosa.

 

"Aquilo despertou a curiosidade da população da cidade. Havia os pessimistas que não se conformavam com aquela pavimentação e só falavam no paralelepípedo. Araçatuba foi a primeira cidade do Interior do Estado a asfaltar as ruas. Isso ecoou por toda parte... Tendo vindo até aqui o prefeito de Presidente Prudente, que se entusiasmou com o serviço, e o prefeito de Santa Cruz do Rio Pardo, logo após esse, deu início ao serviço também na sua cidade", afirma Dr. Valadão, segundo trecho do livro do professor Euclides.

 

"O paralelepípedo, que alguns apregoavam, teria que vir de Itu (SP). Seria mais caro, antiquado, menos cômodo e sujeito a depressões. Tanto estávamos com a razão que, após Araçatuba, todas as cidades do Interior do Estado preferiram essa pavimentação. É com orgulho que dizemos: Araçatuba foi a precursora do asfalto no Estado de São Paulo. A nossa inauguração se deu em plena Praça Ruy Barbosa, lá pelas 10 horas da manhã, em frente ao Banco Comercial, com uma saudação do Clóvis de Arruda Campos, no dia 20 de fevereiro de 1939, que muito nos comoveu...", cita o prefeito em outro trecho do livro sobre sua trajetória.

 

 

ESTÁDIO

O interventor Adhemar de Barros veio a Araçatuba em 6 de julho de 1939. Na visita, Dr. Valadão conseguiu recursos do Governo do Estado que o permitiram realizar obras que transformaram a cidade, como a ampliação da rede de água e esgoto, o alargamento da Avenida da Saudade para 16 metros, a construção do Estádio Municipal (inaugurado em 1940), entre outras.

 

Dr. Valadão também foi responsável pela construção da grande maioria das praças públicas de hoje. Dentre as principais, estão Getúlio Vargas, João Pessoa (500 anos), Diogo Júnior, São Joaquim, São João, Olímpica e Tóquio.

 

 

RÁDIO CULTURA

Araçatuba possuía apenas um sistema de alto-falantes ao redor da Praça Rui Barbosa, quando, no dia 7 de setembro de 1939, sob a orientação de Valadão, entrou no ar a primeira emissora de rádio do município: a Cultura (PRI-8), que depois passou a se chamar Cultura AM.

 

A rádio era o primeiro meio acessível e abrangente de comunicação que atingia todo o município, e também um instrumento político que Valadão tinha, por sua participação desde o início. Logo, o empresário Nicolau Fares comprou as ações, tornando-se seu único proprietário.

 

E assim, os discursos de Valadão passaram a difundir-se pelas ondas do rádio.

 

A Cultura AM foi também a primeira emissora de rádio da região, e, depois de algum tempo, Fares a equipou de potentes transmissores. No dia 30 de julho de 2018, com a migração das rádios AM para FM, a Cultura AM passou a se chamar Viva FM.

 

 

BIBLIOTECA

Até agosto de 1939, havia em Araçatuba poucas bibliotecas. Coube a Valadão construir e inaugurar a Biblioteca Municipal, em 15 de novembro de 1940, com a presença do político, escritor e jornalista Rubens do Amaral, que posteriormente daria nome ao espaço público.

 

 

CRUZAMENTOS

Uma falha deixada pelas administrações anteriores eram as ruas abertas, sem intersecção de outras.  

 

Já Valadão não deixava nenhuma sem cruzamentos, pois acreditava firmemente na liberação de fluxo de tráfego de uma cidade que ele antevia que iria crescer muito.

 

 

MOVIMENTO MUNICIPALISTA

Dr. Valadão concorreu à reeleição em 1947, desta vez pelo voto popular, mas foi derrotado por Joaquim Geraldo Corrêa, o Zizinho.

 

Afastado da Prefeitura, Valadão tornou-se um dos principais líderes do Movimento Municipalista Paulista, criado em Araçatuba em 1948. Esse movimento defendia maior autonomia político-administrativa e financeira dos municípios e acabou sendo referência para todo o País.

 

 

SEGUNDO MANDATO

Eleito pelo voto popular, voltou à Prefeitura para um segundo mandato, administrando Araçatuba entre 1ª de janeiro de 1952 e 31 de dezembro de 1955. Mário Lino foi o seu vice.

 

Nesse período, consolidou obras de infraestrutura, fortaleceu a educação e manteve intensa articulação política, recebendo apoio de governadores como Lucas Nogueira Garcez.

 

Em sua primeira experiência como interventor não havia a presença da Câmara dos Vereadores, mas sim um conselho de notáveis, cujas sugestões, críticas e propostas ele não era obrigado a seguir.

 

Assim, estava acostumado a fazer a seu modo, sem consulta, sem programação e estudos prévios ao Legislativo, o que acabou gerando inevitáveis choques entre os dois poderes neste segundo mandato.

 

 

AVENIDA BRASÍLIA

Outra obra histórica de Araçatuba ocorreu com a participação do Dr. Valadão: a construção da Avenida Brasília. Coube ao prefeito fazer acordos com o comendador Elíseo Gomes de Carvalho, dono da Imobiliária Paulista e responsável pelo investimento, além dos donos da maior parte das terras que ficavam entre a Avenida Luiz Pereira Barreto e a estrada principal (atual Rodovia Marechal Rondon).

 

 

EXPÔ

Também foi ideia do Dr. Valadão impulsionar um evento que se tornaria uma das marcas registradas da cidade, de importância para o comércio local e orgulho do araçatubense: a Exposição Agropecuária de Araçatuba (Expô).

 

Havia pouco tempo que era realizado na cidade o "Concurso de Bois Gordos", entre criadores de gado. Apenas três edições haviam sido executadas até então. Foi quando Valadão resolve inseri-lo no calendário oficial do município, com apoio da Prefeitura e do governo estadual.

 

O concurso, então, virou exposição, que se transformou é uma referência obrigatória e turística de Araçatuba, já classificada como uma das maiores feiras do território nacional.

 

 

PONTE

Graças ao seu bom relacionamento com o governador Lucas Nogueira Garcez, e insistentes apelos, muitas obras do governo estadual beneficiaram Araçatuba durante seu mandato, como a primeira ponte sobre o Rio Tietê, na altura do Porto de Areia Pio Prado, que ligava a cidade a Major Prado, atual Santo Antônio de Aracanguá.

 

 

CARNAVAL DE RUA E BOLINHA

Amante da festa de Momo, Valadão ajudou, literalmente, a organizar o carnaval de rua de Araçatuba.

 

Criou normas, roteiro de ruas a serem utilizadas, colocando cordões de isolamento para fechar o trânsito e guardas municipais nas ruas por onde passavam os foliões. Promoveu concursos para Rei Momo e Rainha, estipulando valores de prêmios para o desfile de blocos e de escolas de samba.

 

O maior ganhador da época foi o Rei Momo Edson Caburiti, o “Bolinha”, que desde o início da década de 1950 possuía o “Serviço de Alto-Falantes Cacique”, instalado em um automóvel, que aposentou em 1956.

 

Anos mais tarde, Bolinha trabalhou na Cultura AM, como locutor e animador, e, logo, estava mostrando sua criatividade na criação de um grupo de crianças e adolescentes cantores e músicos amadores, nas praças públicas de Araçatuba e cidades vizinhas.

 

Bolinha produziu o disco “Astros de Amanhã” e foi gerente de duas emissoras de rádio de Araçatuba, até ser convidado para trabalhar na Capital. Com o tempo, tornou-se atração nos canais de TV, transformando-se em um dos maiores apresentadores populares do País.

 

 

CÂMARA

Em seu último ano à frente da Prefeitura, com a impossibilidade da reeleição, Dr. Valadão decidiu trocar o Executivo pelo Legislativo, pleiteando uma das 19 cadeiras da Câmara Municipal. Elege-se vereador pelo Partido Democrata Cristão (PDC) para o mandato de 1956 a 1959.

 

Concluído o mandato, decidiu não mais concorrer a mandatos eletivos.

 

TERRAS E ARTIGOS

Desde quando havia deixado o cargo de interventor de Araçatuba, em 1941, Aureliano Valadão Furquim passou a ter uma relação mais próxima ainda com a natureza, haja vista ser ele um filho de proprietário de áreas rurais.

 

Segundo narra o professor Euclides em seu livro sobre a trajetória de Valadão, com o conhecimento adquirido em urbanismo, o ex-prefeito dedicou-se mais à arborização e à ornamentação de sua chácara e de suas fazendas. Dessa forma, posteriormente, mesmo ocupando cargos públicos eletivos, não deixou de lado suas propriedades e os negócios advindos delas.

 

Após o desencanto definitivo na política partidária eletiva, em 1960 volta novamente seus interesses pelos negócios da terra. O problema é que nem sempre eram bem-sucedidos.

 

Do desgosto com a política às negociações frustradas com as terras, os dissabores aumentaram, o que naturalmente abriu espaço para outro interesse: a publicação periódica de 225 artigos na imprensa, o que se deu a partir de 1974, por meio do jornal "A Comarca".

 

POLÊMICAS

Valadão defendia em seus artigos que não acreditava que o nome de Araçatuba tivesse surgido, como diz a história oficial, devido à grande quantidade de pés de araçás.

 

Segundo ele, fotos antigas mostravam, no início da construção da rede ferroviária, árvores de até 30 metros de altura, significando que na Alta Noroeste havia uma continuação da mata atlântica, e não cerrado, que é o ambiente propício onde se poderiam encontrar araçás nativos. Na verdade, o nome pode ter vindo de uma corredeira no Rio Tietê, que em tupi denominava-se araçatybo.

 

Outra tese defendida pelo ex-prefeito, baseada nos depoimentos de testemunhas ainda vivas na época, é que Araçatuba não foi fundada em 1908, como definido pelos vereadores da legislatura 1956-1960. Essa seria a data da instalação de um vagão que servia de pernoite para os funcionários da linha férrea.

 

Para Dr. Valadão, a data correta é 1912, quando foi loteado o primeiro terreno. Um ano antes, foi feita a derrubada de dez alqueires de mata onde hoje está a Praça Rui Barbosa.

 

O ex-prefeito acusava os vereadores de manipularem a data oficial porque queriam fazer parte da história, sendo lembrados como integrantes da Câmara no cinquentenário de Araçatuba, que foi comemorado em 1958, na administração do prefeito Zizinho.

 

 

HONRARIAS

Na legislatura de 1973 a 1976, a Câmara de Vereadores concedeu a Valadão o título de Cidadão Araçatubense, em reconhecimento à vida dedicada ao município. Ele recebeu a homenagem das mãos do autor, o vereador Jorge Napoleão Xavier.

 

No dia 9 de julho de 1982, recebeu uma medalha pelo Dia do Soldado Constitucionalista, em solenidade realizada Escola Estadual Joubert de Carvalho, honraria entregue por Milton Freire, que foi vereador em Araçatuba.

 

 

BODAS DE OURO

Em 1980, Valadão e Zoraide comemoraram 50 anos de casamento. A família reuniu-se em Araçatuba para comemorar as bodas de ouro do casal.

 

 

A CHAMA SE APAGA

A seguir, trecho do livro do professor Euclides sobre o falecimento de Dr. Valadão, ocorrido em 17 de julho de 1987:

 

"E a vida transcorreu normalmente até a noite do dia 16 de julho de 1987, quando Aureliano Valadão Furquim, aos 85 anos, deitou-se junto à esposa Zoraide. Na manhã seguinte, de um dia de inverno como outro qualquer, aquele texto tão belo, escrito à base de paixões, convicções e realizações ganhou um ponto final.

 

Uma tristeza descomunal abateu-se sobre sua família, seus amigos, sobre os araçatubenses que o conheciam e o admiravam. Para estes, as ruas e avenidas abertas por Valadão naquele dia pareciam mais estreitas; as praças, menos bonitas; as árvores por ele plantadas, menos verdes; o dia, menos colorido.

 

E porque assim é o ciclo da vida, feito de vindas e idas, recheado de palavras que se repetem numa tentativa de dar sentido à existência, podemos e devemos reafirmar que, de tanto que fez por esta terra, em termos de infraestrutura e desenvolvimento econômico, Aureliano Valadão Furquim tornou-se referência histórica.

 

Sua morte e vida fez parte de discursos e ganhou as páginas dos periódicos. Jornalistas, amigos e familiares escreveram sobre ele, para lembrá-lo e homenageá-lo. E não é exagero afirmar que virou mito, eternizando-se nas obras e em tudo mais que realizou em Araçatuba."

 

REPERCUSSÃO

O jornal A Comarca estampou a seguinte manchete: "Morre o ex-prefeito Valadão Furquim, uma das reservas morais de Araçatuba".

 

O ex-prefeito Sylvio Venturolli, outro grande político de sua época, afirmou: “Valadão fez 50% do que existe de permanente na cidade”.

 

HOMENAGEM

Aureliano Valadão Furquim foi homenageado com o nome de uma rua no Bairro Umuarama.

(18) 3607-6500
Rua Coelho Neto, 73, Vila São Paulo, Araçatuba - SP, CEP: 16015-920
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